sexta-feira, 30 de novembro de 2007

BIG BANG


Tudo o que em mim reclama é uma vontade. Minha subjetividade é meu espaço e minha caneta meu tempo, que se encerra e se inicia cada vez que a tinta deixa o papel, como quando ao escrever um i, a caneta abandona o papel para desenhar o ponto da letra. Me perco no nada e o vazio me toma. O vazio é experimentar uma torta de brigadeiro sem paladar e a vontade é uma mentira, é achar que se a torta fosse de prestígio seria gostosa. Mas não é o paladar que não me tem e sim eu quem não o tenho. Fecho os olhos para não expandir o medo e me enxergo. Onde estou? Que interior é esse que fala e cala até que uma voz parida pelo pensamento aconteça prematuramente? Logo os abro para falar da materialidade das coisas, já que falar do que se vê é mais fácil. Recuso. Uma lágrima conta a um cílio que ainda existe um pingo de justiça. O momento é um ferro enferrujado de tétano que me perfura o cérebro e me faz ser, porém então num segundo já não sou, porque o ferro não é estático e alguém o enfia e o tira para experimentar um flash de felicidade através da minha dor. A dor é o que de mais humano existe e é por isso que escrevo. Quando me conto me enfeito o corpo de band-aid e disfarço as feridas. Existem muitos tipos de band-aids: estampados, lisos, coloridos... Mas quando a sinceridade aparece e revela meus pudores eles caem e não voltam a grudar, o tétano vai virando lepra e para me dizer, crio. Só a criação traz a sensação de novo, que some por ser plágio antes que eu possa inspirar o cheiro de plástico virgem. Por isso mergulho e deixo meus pulmões encharcarem d’água, aí a boca da existência me beija e me chupa, fazendo-me cuspir um peixinho transparente que lutava contra dez ouriços no meu estômago. Me transformo num cacto pelo avesso, mas o avesso que é minha essência não resiste ao sol. O tétano, a lepra e os espinhos já consumiram minha embalagem, mas o sol desidratou todos os meus segredos, talentos e idéias que guardava em meu calabouço. Encerro-me e junto comigo se encerra uma vontade, a vontade do começo, vontade de escrever e de terminar o mesmo ato.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

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quinta-feira, 1 de novembro de 2007

EU

Canto, grito, esperneio. Meu canto é meu principal sintoma de vida. Meu extremo é um agudo, as dores insistentes os graves. As pausas são meus desejos.
Canto, grito, esperneio. Meu grito é asa que soa melodias de infinito. Vôo veloz na irregularidade do segundo em que me enfrento gritando.
Canto, grito, esperneio. Esperneio para me ser essencialmente: para me encontrar cantando em minha infância. E sonho e pranto.
Canto e grito e esperneio porque a felicidade é meu direito de me permitir ser sem pudor. Meu som é crepúsculo e orvalho.
Canto e grito e esperneio para transar com a liberdade, porque quem procura canto em boca alheia não balbucia mais que onomatopéias incompreensíveis.
[Não odeio quem me inveja cantando. Meu canto me opera as mágoas. Tenho pena e pena é pior que ódio.]
Esperneio e grito e canto.